Existem alguns termos que me causam náuseas. “Filme de Arte” é um deles. Usam-no sempre para designar filmes em que o crítico assistiu, gostou, mas graças à arrogância intrínseca a atividade de “crítico”, acredita que o público não entenderá o filme. Aí então ele chama de “Filme de Arte”.
O público, ou a maioria esmagadora dele, quando lê em uma crítica que tal filme é um “Filme de Arte”, já torce a boca e procura um passatempo de mais fácil digestão intelectual. O consequente baixo público garante o status de cult ao filme e o privilégio do crítico. Aí ele sai fazendo citações ao filme em outras críticas pelo resto da vida. E também garante a si, o epíteto de intelectual do cinema.
Parto do princípio que todo filme é uma “Obra de Arte” e, por essa razão, consideramos o cinema como a nossa Sétima Arte. Claro, existem obras de arte ruins e outras - poucas, raras - maravilhosas...mas são todas “Obras de Arte”.
“A Árvore da Vida” é uma dessas “Obras de Arte” !!
É um filme difícil...tenso...denso...!!
E é aí que dou a você a primeira dica:
Não é um filme para ser “assistido”...é necessário que você se deixe levar, permita que o filme te conduza... É um filme que atinge não só a visão, mas também a audição. O filho de um amigo meu disse que o filme é “progressivo”, comparando o filme a um disco do Marrs Volta, longo, repleto de solos, alternando ritmos de condução e codas intermeando as músicas. Eu discordo, sutilmente... É psicodélico, com momentos que beiram uma experiência lisérgica !!
Se você for esperando assistir um “filme de Brad Pitt”, não vá... é capaz de sair da sala de projeção como tantos que, além de não entenderem nada daquelas mais de duas horas de projeção, sentem vergonha de falar que não gostaram... mesmo não gostando, sabem que estão diante de uma “obra de arte”.
Terrence Malick é um diretor bissexto. Nos seus quarenta anos de carreira, mais do que tenho eu de vida, dirigiu apenas cinco filmes. A melhor coisa que posso falar dele é que se 5% dos diretores de cinema da atualidade tivessem a sua capacidade de encontrar belos enquadramentos, o cinema seria muito mais legal. O cara é muito talentoso !! Malick é da mesma linha de diretores do genial Stanley Kubrick a quem, diga-se de passagem, ele é sempre comparado. Até a reclusão e a atitude de filmar o quê, quando e quanto quer nos remete a ele.
E claro, ele não se faz de rogado. Malick “homenageia” Kubrick escancaradamente.
Aliás, “A Árvore da Vida” só é comparável a “2001 – Uma Odisséia no Espaço”.
O fato de o diretor ser formado em filosofia em Harvard e lecionado a matéria no MIT nos dá uma sugestão do que teremos pela frente. “A Árvore da Vida” é um grande questionamento sobre...a vida !! E sobre Deus !! E sobre as perguntas básicas que geraram toda a nossa filosofia:
Quem somos ?
De onde viemos ?
Para onde vamos ?
No momento de maior questionamento – Deus sabe de todas as coisas, mas será que sabe da “minha” existência !? – Malick nos joga em uma enorme seqüência progressivo/psicodélica que nos coloca no bigbang e nos leva aos dias de hoje. Esse é o momento da rendição do expectador. Há uma passagem, que não vou detalhar, que envolve dinossauros. A cena é ainda mais perfeita do que os ofertados por Spielberg em seus Parques de Dinossauros. E até os dinossauros tinham sentimentos...
Lindo... Emocionante !!!!
Como disse, muita gente vai assistir ao filme por causa de Brad Pitt e Sean Penn. Não cometam este erro. A presença deles é mero detalhe. O filme não tem roteiro, quase não tem diálogos – os personagens falam em off quase todo o filme. Não tem uma montagem linear. É atemporal, em todos os sentidos.
Pitt é afogado pela interpretação brilhante do garoto Hunter McCracken, o Sean Penn criança. Já Sean Penn é enfeite de belos cenários. Está ali, acredito, apenas pelo sofrimento que sua expressão transmite naturalmente. Jéssica Chastain representa a mulher de Pitt. Sua atuação é um deslumbre...
Não posso concluir esse texto sem elogiar a trilha sonora – Alexandre Desplat - e a belíssima fotografia – Emmanuel Lubezki.
Merecidamente, levou a Palma de Ouro em Cannes.
E agora você está se perguntando:
Ta bom “Falando”... você falou um monte de coisa aí e tal mas... do que o filme trata afinal ??
Não vou falar...
É um filme obrigatório !! A gente se desacostumou a pensar cinematograficamente, né ?? É isso !! “A Árvore da Vida” é um exercício cinematográfico...
Não é assim, chegar aqui e dizer que gostei...
Ou não gostei...
É pra chegar aqui e dizer que já assisti três vezes !!
E, já que prolongaram o período de sua exibição, irei mais uma vez hoje.
#RECOMENDO
Falando de Santos
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